A nossa principal preocupação para planificar uma actividade foi perceber quais as necessidades e interesses das crianças. Assim os três dias de observação e interacção com as crianças tiveram exactamente esse objectivo. Conversámos várias vezes, e reflectimos sobre algumas características, interesses e necessidades do grupo, e através das observações que consumamos, pensamos que seria curioso e pertinente realizar uma actividade em torno destas mesmas características.
       Ao apercebermo-nos de que as crianças adoravam uma personagem chamada Mumuhug, idealizamos uma actividade em que esta personagem fizesse parte integrante.
        Nesta linha de pensamento “um educador de infância não é alguém que inevitavelmente sabe as respostas certas, incute conhecimentos, ou mesmo motiva a criança a aprender. Pelo contrário, um educador de infância é alguém que responde às aptidões, necessidades e interesses da criança que aprende proporcionando verdadeiras oportunidades de actividades iniciadas pela criança que contribuem para o seu desenvolvimento” (Lambie cit. por Post & Hohmann, 2007, p.30).
        Ao apercebermos do quanto as crianças gostavam de ouvir histórias, bem como a sua euforia pela personagem Mumuhug, surgiu a ideia de criarmos uma história sobre a mesma, o que nos foi muito difícil visto não haver grandes informações e conteúdos sobre o Mumuhug. Tivemos em conta que “a criança em idade pré-escolar gosta de imitar, de fingir, de ouvir e contar histórias, porque através destas actividades pode exercitar a sua capacidade de representar o mundo” (Dewey cit. por Hohmann & Weikart, 2007, p.15).
        A história que escrevemos intitula-se Mumuhug Gosta de Ajudar, onde abordamos valores como a amizade, inter-ajuda e a partilha. Tendo em conta a faixa etária das crianças, a nossa história foi contada oralmente acompanhada com uma sequência de imagens de acordo com o enredo. Sabe-se que a linguagem oral favorece a ampliação do universo discursivo da criança pois é através da fala que ela traduz os seus modos próprios e particulares de pensar. Muito antes de apropriar-se do código escrito, a criança relaciona-se quase que exclusivamente com o texto representado pela imagem e interpreta-o a partir do contexto sócio cultural que está inserida, isto é, através dos conhecimentos que possui sobre o mundo que a rodeia. Da mesma forma, a imagem é companheira efectiva da criança, e a narrativa como forma de expressão também está presente nesta desde muito cedo. A imagem torna-se, assim, um instrumento fundamental para o estímulo à leitura ao mesmo tempo que atrai a criança para o livro, permitindo a esta criar a sua própria história e a estreitar a relação com a literatura.
        A criança que não lê, atribui um valor incontestável à imagem, pois, “assim como o adulto lê o texto escrito, a criança lê a imagem, quer dizer, recebe dela uma mensagem, expressa-se sobre essa imagem, comunica-se” (Camargo 1995, p.81). Esta história tinha também como objectivo ir ao encontro do projecto educativo da instituição “Crescer Com Valores”.
        Sabe-se que a “hora do conto” ocupa um lugar importante, pelo que julgamos fundamental elegê-la como uma das actividades capazes de pela sua prática continuada, proporcionar o desenvolvimento do prazer de ler, resultante, numa primeira etapa, da simples satisfação do gosto pelas histórias” (Gomes, 1996, p.37).
        Para complementar a actividade pensamos numa actividade de expressão plástica relacionada com a história. Deste modo, as crianças tiveram a oportunidade de desenhar e pintar um desenho para oferecer ao Mumuhug. Demos a liberdade às crianças de desenharem o que desejassem, pois como patenteiam as Orientações Curriculares, “as actividades de expressão plástica é da iniciativa da criança que exterioriza espontaneamente imagens que interiormente construiu” (Orientações Curriculares, 1997, p.61).
       Para além disto idealizamos e construímos um jogo da memória com as personagens da história que as crianças ouviram. “Para Piaget, o jogo é a construção do conhecimento, pelo menos durante os períodos sensório-motor e pré-operatório” (Kamii, 1996, p.27). O jogo é reconhecido como meio de fornecer à criança um ambiente agradável, motivador, planeado e enriquecido, que possibilita a aprendizagem de habilidades. Piaget (1976), diz que a actividade lúdica é o berço obrigatório das actividades intelectuais da criança.   Estas não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual.
       Como já referido, antes da realização da nossa actividade, fizemos algumas visitas à Sala das Rosas, de forma a percebermos os interesses das crianças, e também com o intuito de realizarmos uma planificação da actividade consciente e satisfatória, para o bem – estar das crianças. Segundo as Orientações Curriculares, “planear implica que o educador reflicta sobres as suas intenções educativas e as formas de as adequar ao grupo prevendo situações e experiências de aprendizagem e organizando os recursos humanos e materiais necessários à realização” (Orientações Curriculares, 1997, p.26).


        No dia 2 do mês de Dezembro do ano 2009, chegamos ao infantário “As Primaveras” faltava cerca de cinco minutos para às 9h, deste modo, às 9h em ponto já encontrávamo-nos na sala de actividades. As crianças iam chegando com os pais aos poucos. O educador, bem como as auxiliares recebiam as crianças com muito afecto. Este momento de acolhimento, é importante para a troca de informação entre famílias e instituição. É o primeiro momento do dia, que se verifica a transição da criança do meio familiar para a creche, por isso, importa que a mesma seja recebida de uma forma acolhedora. Deste modo, “boas-vindas calorosas e acolhedoras por parte dos educadores asseguram às crianças e aos pais, que o centro infantil é como se fosse lar-fora-de-casa seguro e simpático” (Hohmann & Post, 2003, p.209).
Às 9h30, chegara à hora do lanche, seguindo-se as brincadeiras livres no exterior. Este tempo decorrido antes da actividade serviu também para ver se entretanto chegavam mais crianças. Posteriormente o grupo regressou à sala.
        A nossa actividade iniciou-se às 10:15. Começámos por anunciar às crianças que iríamos contar uma história acerca do Mumuhug, uma personagem que elas adoram. Após revelarmos às crianças que iríamos contar uma história sobre o Mumuhug, a emoção, a curiosidade e o interesse das crianças, iam enchendo a nossa vontade e motivação para realizar a actividade.
        Quando começamos a leitura da história, fez-se silêncio quase completo e as crianças ficaram todas muito atentas e entusiasmadas. Foi nossa intenção contar a história com uma voz muito bem colocada, alta, com entoação e utilizando expressões faciais. Sabe-se que “o modo como o educador lê para as crianças e utiliza os diferentes tipos de texto constituem exemplos de como e para que serve ler” (Orientações Curriculares, 1997, p.70). Segundo Cury, para contar uma história às crianças é “necessário exercitar uma voz flutuante, teatralizada, que muda de tom durante a exposição. É preciso produzir gestos e reacções capazes de expressar o que as informações lógicas não conseguem” (Cury, 2003, p.132).
       De referir que cada uma de nós contou metade da história, no entanto tivemos cuidado na passagem de uma colega para outra. Assim num momento de suspense (“e…de repente”) fez-se a transição da leitura. De salientar que este facto não prejudicou em nada a leitura da história, pelo contrário as crianças mantiveram-se muito interessadas. A colega que não contava a história mostrava as imagens que representavam a acção em cada momento. No fim da leitura da história incentivamos as crianças a desenharem livremente uma prenda para a personagem Mumuhug por ter sido um bom amigo.
        Posteriormente o grupo foi dividido em dois: uns foram realizar a actividade de expressão plástica (realização de um desenho) com a ajuda de uma de nós, e o outro grupo realizou o jogo da memória.
        As crianças desenharam desenhos diversificados e com várias cores. Ao longo da actividade íamos perguntando às crianças o que estavam a desenhar, e o que é que achavam que o Mumuhug precisa e gostava de receber. A maior parte das crianças sabia identificar o que desenhava. Surgiram carros, motas, casacos, bolas etc, tudo prendas para o Mumuhug. Ao trabalho das crianças juntamos o Mumuhug que a maioria dos pais decorou em casa (ver figuras 16, 17 e 18).


Fig. 16 - Trabalho final realizado pelas crianças.


Fig. 17 - Trabalho final realizado pelas crianças.


Fig. 18 - Trabalho final realizado pelas crianças.

       De salientar que houve uma grande adesão por parte dos pais na decoração do molde (ver fig. 19).



Fig. 19 - Mumuhug's decorados pelos pais.


        Durante o tempo que decorreu a actividade, houve uma troca entre nós, em que a colega que se encontrava na área de expressão plástica deslocou-se para a área onde se realizava o jogo da memória e vice-versa.
        Relativamente ao jogo da memória, iniciamos com as imagens voltadas para baixo, pedíamos a uma criança que voltasse uma imagem, e outra adivinhava a sua correspondente. Era grande o entusiasmo por parte das crianças. Inicialmente queriam voltar as imagens todas de uma vez, pois não conseguiam conter a sua curiosidade.
        O jogo da memória foi bem aceite pelas crianças, contudo como algumas tinham dificuldade e pouca tolerância para descobrir onde se encontrava a outra imagem, optamos por mudar de estratégia. Colocamos todas as imagens do jogo voltadas para cima, mas as imagens iguais encontravam-se distanciadas umas das outras. Observamos que as crianças gostaram da alteração. Cada criança tinha a oportunidade de encontrar um par de imagens de entre todas as que existiam, e quando o encontra-se ficava com ele. Assim, no fim só restavam 2 imagens e o jogo terminava. De salientar que o referido jogo foi jogado várias vezes, até pelo mesmo grupo de crianças que gostava de repetir.
      Após as crianças terem realizado os dois momentos da actividade deixámo-las por uns instantes brincarem livremente pelos vários cantinhos da sala. Seguidamente pedimos ao grupo para se sentar no tapete para podermos reflectir sobre a actividade. Tínhamos como objectivo escutar a opinião das crianças e tentar compreender se estas tinham percebido as mensagens da história. Mostramos ao grupo o desenho que cada criança tinha feito, e recordamos todos os presentes que tinham desenhado para oferecer ao Mumuhug. Foi curioso verificar que as crianças ficavam atentas ao que os colegas tinham desenhado e algumas lembravam-se exactamente o que tinham desenhado.
       Terminada esta reflexão em grupo concluímos que a actividade correu bem, e que conseguimos atingir os objectivos a que nos propusemos.
       Antes da despedida, conversamos com o educador Ricardo com o objectivo de reflectirmos sobre a actividade desenvolvida. Pelas suas palavras a actividade correu bem, conseguimos no geral cativar a atenção das crianças. Fez-nos também uma crítica construtiva ao nos dizer que o conto da história poderia ter sido mais lento. No entanto reconheceu e nós também, que os nervos estiveram na origem deste facto. Contudo, e tendo em conta que foi a nossa 1ª actividade realizada no pré escolar sentimo-nos muito felizes pela concretização da mesma, bem como pela reacção das crianças.

 


Bibliografia




Camargo, Luís (1995). A ilustração do livro infantil. Belo Horizonte: Lê.


Cury, A. J. (2003). Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Editora Sextante.

Gomes, José António (1996). Da Nascente à Voz – Contributos para uma pedagogia da leitura. Lisboa: Editorial Caminho.


Hohmann, M. & Weikart, D. P. (2007). Educar a Criança. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.


Piaget, Jean (1976). Psicologia e Pedagogia. Rio de Janeiro: Forense Universitária.


Kamii, Constance (1996). A teoria de Piaget e a Educação Pré-Escolar. Lisboa: Instituto Piaget.


Ministério da Educação/Departamento de Educação Básica, (1997). Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar. Lisboa: M.E/DEB – DEPE.


Post, J. & Hohmann, M. (2007). Educação de Bebés em Infantários – cuidados e Primeiras Aprendizagens. 3ª Edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

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Agradecimentos

Agradecemos a todos os que colaboraram para que esta publicação se tornasse possível, nomeadamente à professora Guida Mendes, ao educador Ricardo Jorge, à directora da Instituição, e claro às crianças, pois afinal foram elas as principais protagonistas desta publicação.

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